sexta-feira, 29 de junho de 2012

Marta Respirava, mais sem vida.


Ela não sabia onde estavam seus pés, pernas ou braços. Seu corpo já não era mais nada além de uma imensa massa de ar seco, que estufava suas veias e roubava-lhe a vida. Tinha esquecido de si, dos seus porquês, de sua força. Não sentia mais fome, sede, pavor, só sobrava o nada. E a imagem daqueles olhos... Que lançavam todo o frio, a raiva e a dor que a matavam aos poucos, mutilando seus sonhos como o pior dos carrascos de um feio filme medieval. Até aqui, ela sabia-se forte, e agora, não era nada. Nada além daquele monte de ar e galhos tortos e secos. O inverno chegara mais cedo do que o anunciado. Sufocando o perfume do outono, de suas damas da noite, trazendo só a umidade viscosa da terra molhada. No lugar da esperança da brisa macia e das cores suaves fez-se a maior das nevascas. E agora ela está alí, imóvel, imersa no frio, nas cinzas de um mundo de água salgada.

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